segunda-feira, 24 de março de 2014

Os Velhos Tempos

     Por Natalia Grecco


     É estranho pensar que o homem está em conflito constante, desde o momento em que desenvolve seu primeiro pensamento, até o último. Sem um momento de realização absoluta. Eu tinha a ignorância de acreditar que as "reais" preocupações chegavam apenas a partir do momento em que tínhamos idade o suficiente para sermos responsáveis, e que a ingenuidade infantil era parente próxima da felicidade. Mas o que não importa em certo momento para certa pessoa, nunca poderá ser avaliado como generalizado. Assim, hoje vejo que nada é realmente banal.
     Quando tinha 10 anos, manifestei várias sensações em um "livrinho" chamado "Minha Vida, Minha História". Hoje, obviamente reagiria completamente diferente às mesmas situações, que passariam até despercebidas; ou se as percebesse, não registraria. Contundo, na leitura desses pequenos textos consigo sentir a vida inserida naquelas páginas, e notar que aquelas preocupações para o "eu criança" não estão em um nível inferior as do "eu atual", como é provável de se achar. As dificuldades vivenciadas naquela época tinham compatibilidade com minha mentalidade, assim como acontece agora.
     Em algum momento eu até chego a citar "Ai, como era bom os velhos tempos!"; o que no momento parece engraçado, já que o que eram velhos tempos para uma criança? A fralda?
     Mais estranho é pensar que daqui a uma década, por exemplo, achar que eu já tinha vivido bastante e que já era adulta o suficiente com meus 18, é uma bobagem. Apesar desse ser um possível pensamento, ele é incorreto. Sim, estamos sempre achando que o que somos agora é o que seremos sempre; mas quando o futuro chega, não é bem assim. Porém, achar isso não é bobagem, pelo contrário. É o que nos faz viver no presente, e não nas expectativas. Logo, apesar de eu não lembrar dos "velhos tempos" de antes dos meus 10 anos, eu sei que, como do modo que fazia mais nova, devo vivenciar o "hoje" como o tempo mais importante. Tentar não diminuir meus problemas, nem minhas felicidades, porque em alguns anos eles serão apenas uma memória nostálgica; desta forma, a hora de valorizá-los é agora.
    Acredito que o que descrevi foi uma experiência estética, pois acidentalmente encontrei essas anotações antigas e as li apenas com curiosidade, e não com a intenção de avaliá-las criticamente. E foi uma sensação incrível, de surpresa e admiração por alguém que, com poucos recursos, escrevia com paixão. Até os erros de português fazem parte da beleza. E agora, no segundo ano da faculdade, só escrevo quando sou exigida. 


     Caso alguém se interesse, segue o livrinho do qual me referi:








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