segunda-feira, 24 de março de 2014

Proteus - Uma Experiência Estética


Texto escrito por Luiz Moura

Proteus pode ou não ser considerado um jogo. As mecânicas básicas de um jogo em primeira pessoa estão lá. Anda-se com as teclas W (frente), A (esquerda), S (trás) e D (direita), exatamente como em qualquer First-Person Shooter (jogo de tiro em primeira pessoa) e também controla-se o olhar pelo mouse. Mas em Proteus, não há no que atirar, não há com o que atirar, não há inimigos ou explosões. O que há, então?

Resposta: Uma experiência diferente, curiosa, mágica, musical e ampla.

Proteus, sem qualquer explicação ou direção, deixa o jogador boiando no mar próximo a uma ilha, e é nessa ilha que o jogo começa. Tudo o que há a fazer é andar sozinho pelo ambiente a passos lentos e explorar pacientemente. Um reles simulacro da natureza, então? Por que eu andaria por uma ilha virtual se existem ilhas na vida real sob as quais eu poderia andar? Simples: Proteus é completamente modelado em pixel art, com modelos bidimensionais que são explorados pelo jogador por uma jogabilidade tridimensional. Além de que, na ilha, sua interação limita-se a chegar perto das coisas e fazer com que elas reajam. Chegar perto de galinhas faz com que elas corram, enquanto chegar perto de abelhas faz com que você corra, e assim vai. Á medida em que o jogador explora, ele encontra certas particularidades, como estátuas posicionadas em um círculo, de aparência ritualística ou um modelo diferente dos outros e que só aparece a noite, entre muitas outras coisas.


O ambiente é extremamente colorido e minimalista. As folhas das árvores que caem não são nada além de um quadrado (pixel), os modelos dos animais são extremamente pixelados e requerem a imaginação do jogador. Não se trata de gráficos avançados ou ultrarrealistas, mas não tem como negar que a beleza visual de Proteus é legítima e única. Principalmente em um ambiente no qual tudo é música. As galinhas fazem sons de xilofone enquanto correm, os coelhos fazem som de piano enquanto pulam, o vento é música, o mar é música, os vaga-lumes são música.

Conforme o tempo passa, o sol vai se pondo e a noite chega. Com ela, aparecem os vaga-lumes, que formam um caminho para ser seguido. Em um determinado ponto desse caminho, os insetos começam a te circular e dão início a um time lapse. O sol começa a nascer e a se por rapidamente, o vento sopra as árvores e o céu gira em torno da perspectiva do personagem, e logo pode-se perceber que a ilha mudou. O que antes era extremamente colorido, cheio de "rosas" e "violetas", agora fora tomado pelo verde intenso da floresta tropical. O sol no céu está maior, extremamente radiante, e toda a fauna e a flora da ilha mudam. E é isso que faz com o que o jogador deduza que agora ele está em outra estação do ano. Se antes tudo era colorido, provavelmente era a primavera, que fora seguida pelo verão. O que resta é continuar explorando.


Todas as noites, os vaga-lumes tornam a criar um caminho, e seguir esse caminho levará à estação seguinte. Mas, claro, o jogador pode escolher não seguir os insetos, e é aí que mora a complexidade de Proteus. Existem fóruns de discussão do jogo, e muitos presenciaram diferentes eventos em cada um de seus jogos ao se recusarem a avançarem no tempo e explorando as estações por mais tempo. A quantidade de eventos únicos é extremamente ampla, e nem todos os jogadores presenciaram as mesmas coisas. A ilha é única a cada jogo, a cada jogador. No inverno, então, o jogo encontra seu fim. Existe um fim padrão, no qual, em meio à neve cegante do inverno, o personagem começa a se levantar do chão e flutuar, até que, em certa altura, ele fecha seus olhos e o jogo volta ao menu. Muitos, porém, alegam ter conseguido outros finais sem saber exatamente o que fizeram de diferente. Pode-se chegar ao fim em apenas 40 minutos, inclusive.

Proteus foi uma experiência marcante para mim, inicialmente, por ser tão diferente de tudo o que eu já havia jogado até hoje. Hoje em dia, a massiva maioria dos jogos em primeira pessoa são jogos de tiro, no qual matar os inimigos é parte integral para avançar na história, e conforme você joga esses jogos, ele te provoca uma sensação prazerosa devido à adrenalina, o desafio e à dificuldade, entre outros. Nunca antes um jogo em primeira pessoa havia me feito sentir o completo oposto. Paz. Eu senti paz jogando Proteus. Meus olhos se encheram com a beleza dos modelos pixelados, meus ouvidos se deliciaram com a música provocada por cada elemento dentro daquele cenário e em momento algum eu me encontrei entediado, mesmo com a lentidão e a falta de instruções ou de um objetivo fixo - e por isso, não ficarei impressionado caso muitas pessoas não gostem desse jogo. Sentir paz quando normalmente a indústria de videogames ganha milhões te colocando em meio à guerra é realmente muito difícil, e a isso devo agradecer aos criadores independentes Ed Key e David Kanaga.

Muitos podem discordar de mim, mas Proteus é uma experiência da qual nunca irei me esquecer. Chegar em casa depois de um dia difícil na metrópole, colocar um fone de ouvido e explorar a ilha por um tempinho é extremamente gratificante.

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