
Foi em Outubro de 2002, aos 7 anos, que vivenciei algo que me marcou muito e definiu em grande parte como seria minha vida até agora. Estava em Nova York com meus pais, e fui levado para assistir o musical britânico “O Fantasma da Ópera”, de Andrew Lloyd Webber, na Broadway. Esse musical transformou meu mundo naquela época, e foi responsável por uma serie de decisões e ações que eu tomei na minha vida ao decorrer dos anos – inclusive o sonho de se tornar cineasta (para enfim poder realizar minha própria adaptação da historia).
Eu cresci ouvindo CDs
de ópera, não por ter interesse no significado das palavras ou das peças de origem, mas pela pura beleza dos instrumentos e das vozes – sons tais
que inspiravam minha imaginação. Também cresci com uma grande paixão por
historias “assustadoras”, de vampiros, bruxas ou fantasmas. A junção de “Fantasma” e “Ópera”, portanto,
parecia ser a mistura perfeita de duas coisas que eu amava – então estava
completamente animado para conhecer essa obra.
O musical é baseado
em um livro homônimo de Gaston Leroux, e teve inúmeras adaptações em diversas mídias,
incluindo um filme de 1943, dirigido por Arthur Lupin – que eu já havia
assistido antes de ver a peça. Entretanto, este era bem pouco fiel ao trabalho
de Leroux, usando os temas e ideias principais mas com uma trama um tanto
diferente. Por outro lado, o musical estava muito mais próximo a sua fonte
literária (apesar de, interessantemente, adotar algumas das mudanças propostas
por Lupin).
Na época, como meu
inglês era bem limitado, minha base para o entendimento da narrativa estava no
meu conhecimento prévio do filme de Lupin, e o poder das imagens e do som. E se
a peça que eu estava prestes a assistir tivesse tido direção e composição
completamente diferentes – talvez eu não teria tido o tipo de imersão e
aproveitamento que eu tive.

Apesar do musical de
Webber ser talvez a adaptação mais conhecida do romance de Leroux (na verdade é
ainda mais famosa do que o próprio), a obra original foi adaptada varias vezes
para o teatro musical – e acho que essa midia é talvez a mais interessante para
se contar a historia. Cria-se uma metalinguagem: estamos num teatro assistindo
pessoas em um teatro, vendo peças dentro de peças; ilusões dentro de ilusões.
Isso automaticamente nos aproxima do universo narrativo. Mas particularmente na
visão do diretor Harold Prince e da cenógrafa/figurinista Maria Björnson, essa
metalinguagem é aguçada, e a viagem intensificada.

Resumidamente, o
resultado final do show é um tipo de magia que acontece raras vezes no teatro –
uma alquimia perfeita entre os talentos de Webber, Prince, e Björnson, sem
contar é claro das intensas interpretações dos vários elencos que estiveram no
musical ao longo dos seus mais de 25 anos ininterruptos de apresentação (tanto
em Nova York como em Londres).
A trama da obra me
cativa profundamente até hoje – mas o que mais se infiltrou em minha alma como
artista e espectador são as oníricas composições cênicas e musicais – o
casamento entre esses dois tipos de composição, para ser mais exato. É a sua
estética que me assombra. Jamais poderei me esquecer daquelas imagens – tão
bonitas, dramáticas, misteriosas e ocasionalmente extremamente sensuais: A
ascenção do lustre – com a tenebrosa música de órgão (semelhante à “Tocata e
Fuga em D Menor” de Bach) – que nos transporta para os anos de glória da Ópera;
A viagem para o sombrio mundo subterrâneo do Fantasma, com candelabros
milagrosamente surgindo de dentro de um lago (um dos efeitos especiais mais
marcantes da peça); um grotesco baile de máscaras ala-Edgar Allan Poe, que
culmina na chegada da Morte Vermelha; as bailarinas de Degas dançando no
escuro; O Fantasma se materializando pela primeira vez no reflexo do espelho da
protagonista; a magnifica estátua de anjos que desce do proscênio durante o fim
do primeiro ato para representar o telhado da Ópera; o cemitério em chamas; o
desmascaramento do Fantasma (que foi responsável por muitos dos meus pesadelos enquanto
criança); entre muitos outros.
“O Fantasma da Ópera”
é um ode ao belo – à beleza superficial, e à beleza que pode ser encontrada nas
coisas mais aparentemente grotescas e aterrorizantes. Essa foi minha experiência estética mais marcante – um
ataque esmagador de uma forma de arte aos meus sentidos, do melhor jeito
possível, se assimilando dentro de mim e continuando a me afetar profundamente
depois de todos esses anos.
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